Quando a gente ouve falar que alguém é enólogo, logo vem à mente a figura de uma pessoa segurando uma bela taça de vinho, cumprindo aquele ritual elegante de apreciar cores e aromas da bebida. Confesse: você também pensou nisso agora, não foi? A imagem faz sentido, mas revela apenas uma pequena parte do trabalho desenvolvido por esse profissional. Antes de posar para a foto, é preciso cumprir uma longa lista de tarefas nem sempre glamourosas, mas sem as quais não haveria vinho na garrafa.
Quem bem sabe disso é Marcelo Petroli, que comanda a equipe técnica da Vinícola UVVA. “Todos os dias tenho que tomar decisões sobre manejo do vinhedo, composição de cortes, técnicas a serem utilizadas no processo de produção, acompanhamento das análises”, enumera. Ou seja, aquela parte boa da degustação e avaliação sensorial só acontece lá no fim da linha. E, mesmo assim, depois de mais uma decisão que precisa ser cuidadosamente avaliada: escolher o momento certo de tirar o vinho da barrica.
VINHO É TRADIÇÃO DE FAMÍLIA
Marcelo Petroli: o enólogo por trás dos nossos vinhos
Para entender melhor o papel do enólogo em uma vinícola, também é preciso lembrar que ser um apreciador de vinho está longe de ser suficiente. Aos 39 anos, Petroli traz no currículo 20 anos de estudos, incluindo a formação em enologia e viticultura pelo Centro Tecnológico Federal de Bento Gonçalves, cidade do Rio Grande do Sul onde nasceu, já inserido na cultura do vinho.
“Nasci praticamente debaixo de um vinhedo”, ele brinca, para dizer que sua vida gira em torno desse universo desde sempre. Seus pais são descendentes de italianos e produtores de uvas até hoje, dando continuidade a uma tradição gaúcha que, quando menino, era para ele apenas uma deliciosa diversão. “Lembro que acompanhava meu pai quando ele ia entregar as uvas nas vinícolas e achava fantástico circular por aquele universo”, diz.
Difícil é saber em que momento o encantamento da infância encontrou a vocação profissional. “Foi tão natural que eu nem percebi. Nem cheguei a ficar indeciso, pois para mim não havia uma segunda opção. Acho que só caiu a ficha quando estava formado e já entrando no mercado de trabalho”, admite.
PIONEIRISMO NA CHAPADA DIAMANTINA
As primeiras atuações como profissional se deram na própria Serra Gaúcha e foram desde uma pequena vinícola perto de casa até um dos maiores grupos produtores de vinhos do Brasil. Mas logo bateu aquela vontade de voar em busca de novas experiências. Foi assim que partiu rumo ao interior de São Paulo e, mais adiante, veio parar na Bahia, onde casou com uma engenheira agrônoma e acabou de nascer a primeira filha, Cecília.
O contato com a família Borré, gestora da UVVA, começou em 2014, quando a vinícola ainda era um campo experimental. Inicialmente convidado para prestar uma consultoria, um ano depois Marcelo Petroli assumiu oficialmente o posto de enólogo. O primeiro desafio foi ganhar intimidade com o terroir único da Chapada Diamantina, marcado por um tipo de solo e condições climáticas nunca vistas por ele. Depois, a missão foi assumir o papel de pioneiro, começando do zero um projeto de formação dos vinhedos e montagem da vinícola propriamente dita.
A seu favor, Marcelo Petroli teve o apoio técnico da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e o privilégio de contar com uma estrutura de alto padrão para a produção dos vinhos. Mas ele destaca que de nada adiantaria se não houvesse um investimento na verdadeira estrela desse espetáculo. “Tudo gira em torno da uva. Equipamento e tecnologia não fazem milagre. Se você não tiver uva de qualidade, não terá um bom vinho”. Palavra de especialista.